Bactéria Vaginal pode aumentar a suscetibilidade ao VIH e reduzir a eficácia da PrEP
O crescimento excessivo de certas espécies de bactérias vaginais foi associado a uma probabilidade 13 vezes maior de infeção pelo VIH, enquanto outra espécie diminui os níveis de tenofovir e pode contribuir para reduzir a eficácia da profilaxia pré-exposição (PrEP) por meio do gel vaginal, de acordo com um conjunto de apresentações na Conferência Internacional de SIDA/AIDS 2016 no mês passado em Durban.
Estes resultados têm particular importância na Africa do Sul onde os níveis de infeção por VIH em adolescentes e jovens mulheres é muito elevado.
As novas descobertas derivam de estudos de acompanhamento de mulheres que participaram num estudo da PrEP com um gel vaginal que continha tenofovir (medicamento anti-VIH). Os estudos foram realizados pelo Centro para o Programa de Pesquisa da SIDA na Africa do Sul / Centre for the AIDS Programme of Research in South Africa (CAPRISA), sediado em Durban, uma região onde 66% das mulheres de 30 anos estão infetadas. A equipa do CAPRISA, demonstrou, em 2010, que o gel reduziu o risco de infeção na mulher em 44%. Mas apesar do resultado ser encorajador também levantou questões sobre as causas do gel não ser mais eficaz.
Estudos analisaram cuidadosamente a microflora vaginal de 119 mulheres que eram VIH-negativas no início do estudo, e compararam as 49 que ficaram infetadas com as outras. Num estudo prévio das mulheres deste estudo, as/os cientistas do CAPRISA e seus colaboradores da Universidade da Cidade do Cabo na África do Sul relataram, no ano passado, que as mulheres que tinham uma inflamação do trato genital mais elevada eram mais propensas a serem infetadas.
Estudos em macacos sugeriram um mecanismo: a inflamação traz mais glóbulos brancos CD4 (os alvos favoritos do VIH) à superfície da mucosa. E num outro estudo de mulheres em KwaZulu-Natal, Kwon e colegas relataram, no ano passado, que a inflamação na vagina está associada a uma diminuição de Lactobacillus, uma espécie – que encontramos no iogurte, e que cria um ambiente ácido inóspito para muitos patógenos. Como as/os cientistas observaram, mas não podiam explicar, os Lactobacillus predominavam nas vaginas de apenas 37% das mulheres foco de estudo, em comparação com 90% das mulheres brancas nos Estados Unidos
Até agora, porém, ninguém tinha claramente associado específicos microbiomas vaginais a um aumento do risco de infeção pelo VIH. “Agora temos dados reais”, diz o diretor do CAPRISA, o epidemiologista Salim Abdool Karim.
Os dados provêm de um massivo esforço para identificar espécies de bactérias na citologia vaginal das mulheres no estudo, do CAPRISA, sobre o gel tenofovir. O laboratório da Universidade de Columbia, que se especializa em encontrar agentes patogénicos raros, extraíram cerca de 25.000 sequências de bactéria ribossomal de ARN de cada esfregaço e usou os dados genómicos para identificar um total de 1368 espécies.
Uma espécie relativamente rara, Prevotella bivia, destacou-se como particularmente prejudicial. As mulheres cujos microbiomas vaginais incluiam mais de 1% do P. bivia apresentaram os maiores níveis de inflamação genital e uma maior probabilidade de se infetarem com o VIH. Estas mulheres tinham, marcadamente, níveis reduzidos de Lactobacillus, e as/os cientistas demostraram que P. bivia estava associada a elevados níveis de um composto que promove a inflamação chamado lipopolissacarídeo (LPS). Anteriormente, estudos in vitro mostraram que o crescimento de P. bivia levava a elevados níveis de LPS, que compõem a parede celular das bactérias, e o LPS, por sua vez, estimula a produção de mensageiros químicos inflamatórios.
As mulheres que apresentavam mais de 1% P. bivia tinham uma probabilidade 13 vezes maior de se infetarem com VIH.
No segundo estudo, de lavagens vaginais de 688 mulheres do mesmo estudo do CAPRISA, Adam Burgener e Nichole Klatt, demonstraram que o microbioma vaginal não apenas influenciava o risco de infeção; mas também podia interferir diretamente com a PrEP. Em mulheres cujos microbiomas continham menos de 50% Lactobacilli, o gel tenofovir protegeu apenas 18% das mulheres que o receberam. A eficácia subiu para 61%, quando a proporção de espécies de Lactobacillus estava acima de 50%. E quando as/os cientistas misturaram, no laboratório, várias bactérias com tenofovir, descobriram que os níveis do tenofovir mantiveram-se elevados na presença de Lactobacilli, mas desceram para metade quando misturados com uma bactéria chamada Gardnerella, que floresce quando lactobacilos são escassos. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, diz que estes resultados abrem a possibilidade de manipular o microbioma vaginal para ajudar a eliminar infeções por VIH em vulneráveis jovens mulheres.
Os antibióticos, por exemplo, podem afastar a Gardnerella ou Prevotella. Ou a introdução de bactérias benéficas – chamadas probióticos – poderiam “expulsar” as bactérias perigosas. “O que parece uma maneira de relativamente baixa tecnologia para fazer um impacto sobre se ficamos infectadas/os ou não “, diz Fauci.
Kwon adverte que os esforços para manipular o microbioma para tratar doenças inflamatórias do intestino têm tido um sucesso limitado.
Mas Fauci é mais optimista. A cúpula vaginal tem um tecido muito menos suscetível do que o intestino, ressalta.
Artigo adaptado de Science Magazine.
Encontre o artigo cientifico aqui.
Imagem: Burgener and Klatt, AIDS 2016, TUSS0605
