VIH – O que significa a cura da paciente de Nova Iorque
Muito se tem falado desta cura, mas o que significa para as restantes pessoas que vivem com o VIH?
A paciente de Nova Iorque é uma mulher de meia-idade de etnia mista que parece – pelo menos até agora!- estar curada do VIH através de um tipo de procedimento relativamente novo: um transplante de células estaminais que também tratou com sucesso a sua forma particularmente perigosa de leucemia mielóide aguda.
A paciente de Nova Iorque foi diagnosticada com VIH em 2013 e com leucemia mielóide aguda em 2017. A paciente tinha estado em tratamento antirretroviral (ART) com uma carga viral consistentemente indetectável durante anos, mas desenvolveu monossomia 7, colocando a sua leucemia em alto risco de progressão e exigindo um transplante de células estaminais. O procedimento foi realizado em 2017.
Este novo procedimento, que se realizou, envolve tanto sangue do cordão umbilical contendo uma mutação rara resistente ao VIH, como uma infusão de células estaminais adultas.
O procedimento, feito em algumas pessoas com cancros de alto risco, requer uma correspondência de amostras de sangue menos restritiva do que os transplantes apenas de células adultas, e também torna o processo de transplante mais rápido, fácil e seguro.
Como é este procedimento? Os profissionais de saúde “destroem” o sistema imunitário da paciente com quimioterapia e radiação. Em seguida, constroem um novo sistema imunitário através do transplante de três unidades de sangue do cordão umbilical de um doador parcialmente compatível com a rara mutação homozigota CCR5 delta 32, que bloqueia a via mais comum que o VIH utiliza para infectar células CD4. Para melhorar as hipóteses da receptora gravar com sucesso as células do sangue do cordão umbilical, as/os profissionais de saúde transplantaram células mononucleares do sangue periférico adicionais de um dador adulto parcialmente compatível – para a paciente de Nova Iorque, que neste caso era um familiar.
Qual o objectivo do procedimento? O objectivo do procedimento, do ponto de vista do VIH, é o de destruir o maior número possível de células imunes latentes infectadas pelo VIH que se escondem em vários reservatórios dentro do corpo, e que por isso não podem ser afectadas pelos antirretrovirais. Se as células estaminais transplantadas resistentes ao VIH forem gravadas sem complicações, novas cópias virais de quaisquer células infectadas restantes seriam incapazes de infectar as novas células imunitárias que se tornam predominantes. Ou seja, foi-lhe basicamente dado um novo sistema imunitário, resistente ao VIH.
Que resultados? A paciente de Nova Iorque restabeleceu e manteve consistentemente uma carga viral indetectável (utilizando testes sensíveis com um limite de detecção de 20 cópias/mL) após o seu transplante. Tornou-se VIH negativa por 55 semanas após o transplante; aos 37 meses pós-transplante, optou por interromper a sua terapia antiretroviral. Nos 14 meses que se seguiram, a sua carga viral permaneceu indetectável – e também foi negativa ao ADN VIH, com excepção de uma única descoberta transitória de vestígios. Não foram detectados reservatórios de replicação do VIH.
A paciente também esteve em remissão de leucemia, e não recebeu qualquer outro tratamento para o cancro após os procedimentos.
O que significa para as pessoas com VIH? Agora, prepare-se, porque embora as/os cientistas do caso estimem que o procedimento de tratamento com o VIH da paciente de Nova Iorque possa ser aplicado, anualmente, a cerca de 50 pessoas com VIH que realmente precisam dele para curar a sua leucemia, não tem qualquer significado imediatamente aplicável para o resto de nós que vivemos com o VIH, porque não pode ser reproduzido a larga escala. Os transplantes de células estaminais são geralmente procedimentos complicados e difíceis e acarretam um risco significativo de doença e mesmo morte.
De referir que os médicos norte-americanos já tinham tentado uma vez este procedimento num homem a viver com VIH, mas ele morreu após a reincidência do seu cancro.
E outros casos de transplantes: o “Paciente de Berlim” Timothy Ray Brown (que infelizmente morreu de reincidência de cancro em 2020) e “Paciente de Londres” Adam Castillejo (ainda vivo).
Mas também se fizeram importantes descobertas para uma futura cura.
Fonte: The Body