O VIH aumenta o risco de COVID-19, mas podem os ARV compensar esse risco?
Ter o VIH positivo pode ser um factor de risco para resultados piores de COVID-19 (C-19) – mas é incerto até que ponto a terapia antirretroviral (ARV), a carga viral e a contagem de CD4 podem reduzir esse risco, porque muitos estudos não incluem estas variáveis.
Dois vastos estudos apresentados na IAS 2021 oferecem conclusões contraditórias sobre o risco de resultados piores de C-19 entre as pessoas que vivem com o VIH (PVV). Mas nenhum deles avaliou a contagem de CD4 ou a toma de ARV:
– o estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu 268 000 pessoas hospitalizadas com C-19, (de janeiro 2020 a abril de 2021) em 24 países, destas 15 000 vivem com o VIH. Concluiu-se que as PVV tendem a ser hospitalizadas com sintomas graves de C-19 e que apresentavam um risco 30% superior de morrer no hospital comparativamente às pessoas sem VIH. (Este estudo não considerou variáveis importantes como a contagem dos CD4 ou se estavam em tratamento ARV, nesta última variável apenas se conhecia este dado em 40% das PVV). O estudo revelou factores de risco entre as PVV: ser homem, ter mais de 65 anos, ter comorbidades como diabetes ou hipertensão aumentavam o risco de morte por C-19.
– um estudo realizado nos EUA contradiz o estudo da OMS ao referir que poucas são as diferenças entre pessoas com e sem VIH relativamente ao C-19. Este estudo considerou 21 000 hospitalizações em 127 hospitais, destas 221 PVV hospitalizadas com C-19. Considerou-se a massa corporal, fumar, doença renal crónica e doença pulmonar. Mas tal como o estudo da OMS não considerou o tratamento ARV ou os CD4.
Outros pequenos estudos consideram a carga viral, a contagem CD4 e o tratamento ARV nas sua análise de risco de maior gravidade de C-19 para PVV.
– um estudo de Espanha considerou os dados clínicos de 749 pessoas coinfetadas com VIH e C-19, de 16 hospitais da Catalunha. Concluiu que o risco de gravidade por C-19 aumentava com as comorbidades (por ex.: doença hepática crónica, hipertensão, doença renal crónica, diabetes, doença metabólica e doenças respiratórias) assim como com a idade (as pessoas com mais idade apresentavam piores resultados). Piores resultados também estavam associados às pessoas com carga viral detetável, independentemente de a contagem de CD4 ser superior ou inferior a 200 células/mm3.
– um estudo na Colômbia concluiu que os ARV reduziam significativamente o risco de morte por C-19 e ajudavam na recuperação. Nesta amostra 1.7% das pessoas em ARV morreram, comparativamente a 27% que não se encontravam em terapia ARV. Este estudo também não considerou a contagem de CD4 ou a carga viral.
Referências:
https://theprogramme.ias2021.org/Abstract/Abstract/2498
https://theprogramme.ias2021.org/Abstract/Abstract/2377